Para quem ainda não te conhece, fala-nos do teu percurso até te tornares ilustrador, docente e banda desenhista.
Estudei Design Gráfico, nas Belas artes do Porto, mas nunca exerci, propriamente. Desde cedo me dediquei ao ensino e a banda desenhada, desde os tempos de estudante, foi sempre uma paixão, mais do que uma tentativa de fazer carreira, ou algo desse tipo. Comecei por publicar desenhos e bds em fanzines como toda a gente, e mais tarde formei A Mula, com o Miguel Carneiro, antes de me concentrar no meu trabalho “a solo”, recentemente editado em livro.
Este “Diário Rasgado” também existe online sob a forma de webcomic. Porquê o blogue antes do livro?
E porque não? O meu blog e ultimamente o facebook são os meios através dos quais consigo chegar ao maior número de leitores. Cada publicação minha online ultrapassa num dia facilmente as 100 visualizações, mais do que o número de livros que consigo vender num mês, ou o número de visitantes de muitas exposições que fiz. Contudo no blog ou no facebook não se tem a possibilidade, como no livro, de apreciar em detalhe as imagens, ou ler as histórias na sequência certa. Uma coisa não exclui a outra.
Achas que a internet é uma plataforma importante para a BD actual? Para ti, quais as suas vantagens e desvantagens?
A internet é uma plataforma essencial num contexto como o português, onde não há um mercado para a bd, nem instituições dedicadas à divulgação dos nossos autores. É através da web que pelo menos uma minoria interessada de leitores toma contacto com a obra de autores como eu, sem uma grande editora ou máquina promocional por trás.
E os fanzines? Fala-nos da tua experiência nesse universo.
Os fanzines são um espaço de experimentação e liberdade para qualquer autor. O primeiro que fiz, devia ter uns 8 ou 9 anos, serviu para angariar dinheiro para as actividades do meu grupo escutista. Desenhos, bds e passatempos, em folhas A4 fotocopiadas, dobradas e agrafadas, distribuídas e vendidas por nós próprios. Essa sensação de autosuficiência, de poder fazer tudo sem a intervenção de terceiros, a diversão e a vontade de comunicar coisas muito concretas, é o que hoje ainda procuro, nos meus projectos editoriais.
“Diário Rasgado” tem uma forte componente autobiográfica mas também ficcional. Qual dessas vertentes se verifica mais?
Os personagens são reais, as histórias ficcionadas. Cada personagem desempenha um papel próximo da sua vida real, mas de resto é tudo invenção. Os textos, as situações, etc. Com excepção para as histórias familiares, do meu avô, por exemplo, que resultaram de entrevistas e pretendem ser o mais documentais possível.
Esta tua obra é quase exclusivamente realizada a preto e branco, com apenas algumas pranchas a cores. É por uma questão de economia de tempo ou preferes mesmo o monocromatismo?
Cada caso é um caso.
Ao longo do livro, também mostras um interessante contraste entre o humor e o drama. Qual dos géneros te interessa mais desenvolver?
São muito próximos esses dois. Não vejo maneira de os separar.
Podes deixar-nos algumas referências de autores que admires e que foram / são referências para ti?
Todos os grandes autores de bd, nacionais e internacionais. Sendo que para mim há uma cisão muito clara entre aquilo que é banda desenhada de autor, e apenas entretenimento. Não leio bd de super-heróis, nem a bd japonesa mais comercial, porque não me interessa. Portugueses: Raphael Bordallo Pinheiro, Carlos Botelho, Cottineli Telmo, Sérgio Luís, Stuart de Carvalhais, Sérgio Luís, Isabel Lobinho, Carlos Zíngaro, Relvas, Filipe Abranches, Ana Cortesão, João Fontesanta, José Carlos Fernandes, Janus, etc.
Estrangeiros: Alberto Breccia, José Munoz, Will Eisner, Harvey Kurtzman, Yoshihiro Tatsumi, Nicolai Maslov, Martí, Ramon Boldu, Carlos Giménez, Nazario, Justin Green, Robert Crumb, Jerry Moriarty, Art Spiegelman, Joe Sacco, Raymond Briggs, Daniel Clowes, Joe Matt, Chester Brown, Peter Kuper, Gilbert Hernandez, Charles Burns, Eddie Campbell, etc.
E, além da tua, que obras nos aconselharias a ler?
Sobrevida, de Carlos Pinheiro e Nuno Sousa, lançado pela imprensa Canalha, este mês. Na galeria mundo Fantasma no Porto, onde poderão ver os originais expostos até meados de Julho.
Para terminar, quais os teus planos para o futuro? O que podemos esperar da tua parte para os próximos meses?
Este ano queria editar um livro de desenhos a lápis, retratos, naturezas mortas e paisagens, mas isso depende de como correrem as vendas do “Diário Rasgado”. Fora isso vou continuar o meu trabalho em banda desenhada, no registo habitual, embora planeie também algumas histórias um pouco mais longas.
O álbum "Diário Rasgado", editado pela Mundo Fantasma, já se encontra à venda. Entretanto, pode acompanhar o percurso do autor aqui.
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