Um ninho de entrevistas dedicado à actualidade da ilustração e banda desenhada nacionais.
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quinta-feira, 31 de maio de 2012

Entrevista com Pedro Carvalho, ilustrador e banda desenhista




Entrevista a Pedro Carvalho, publicada na Zona Gráfica 2, revista alternativa de BD e ilustração nacional do projecto ZONA.

Pedro Carvalho é um daqueles autores ao qual ninguém fica indiferente. A um estilo gráfico divertido e irrepreensível junta-se um sentido de humor muito característico, capaz de provocar gargalhadas em cada banda desenhada que faz. No entanto, seja em ensaios de fan art, seja a criar personagens originais ou a desenhar segundo os argumentos de outros autores, a entrega e o entusiasmo deste artista de Barcelos são sempre iguais. E é também por isso que a sua arte é tão apreciada.

Porém, quisemos conhecê-lo melhor…




Onde estavas tu e, acima de tudo, o que andavas a fazer antes da Zona? Como é que tudo começou?

Ora bem, onde estava eu… Muito provavelmente em casa a tentar terminar o Call of Duty pela 4ª vez ou algo assim incrível... Incrível ou deprimente? Certamente que é uma das duas, vá lá... 
Bem, mais a sério, em termos de ilustração sou autodidacta, aprendendo um pouco com todo tipo de influências que me rodeiam. Tenho feito tiras de BD para a imprensa local e para uma revista aqui do Norte e ocasionalmente ilustrações para a marca de vestuário Omni. Tirando isso, desenho apenas por gosto, que, sejamos muito sinceros, ganhou um novo incentivo e ânimo com a descoberta da Zona. 




BD ou ilustração? Qual o interesse que surgiu primeiro e qual das duas te cativa mais?

Acho que ambas surgiram ao mesmo tempo. O fascínio pela BD vem desde muito novo: lembro-me de quando me ofereceram a minha primeira revista, li-a e reli-a vezes sem conta, copiava vinhetas inteiras e era inspirado por aqueles personagens fascinantes. Devia ter 8 ou 9 anos quando fiz a minha primeira BD, assim com capa e tudo (e preço na lombada)! Olhando para trás, 100 escudos por um exemplar único que me levou um mês a fazer era uma verdadeira pechincha, digamos apenas que nunca fui muito bom na questão lucrativa da coisa.
Apesar do mundo da BD sempre me ter fascinado, a verdade é que nunca tive muito jeito com a escrita, algo que foi sempre um impasse para mim. A Zona veio mudar isso com as pessoas que tenho vindo a conhecer, as parcerias com os argumentos do André Oliveira têm sido das coisas que mais gozo me deram fazer, por isso tenho que dizer que a BD me cativa mais, isto quando se tem a equipa certa para um bom resultado.




Sabemos que há personagens especiais para ti: do Hulk ao Wolverine passando pelo teu alter-ego Cosmic Rocket Man. Fala-nos desse teu ícone e das tuas referências enquanto autor.

Tal como disse antes, tenho a BD muito presente desde tenra idade, e isso é uma influência que pode ser tão boa como má. Um exemplo de uma má influência é ter lido BD Marvel nos anos 90 e ter ouvido as pessoas dizerem que tinha um traço parecido com o do Rob Liefeld… que inocente na altura pensar que isso era algum tipo de elogio, haha. Mas como tudo, foram aprendizagens, acho que neste momento tenho um traço consistente e muito próprio. Não é perfeito e sei que ainda tenho muito para aprender, mas estou contente com a evolução que tenho tido. Não nego que os personagens da Marvel me têm acompanhado há já muito tempo, a verdade é que nunca me farto de os desenhar, muitas vezes já saem por impulso próprio. Se esta pergunta me tivesse sido colocada há uma década e meia atrás, a coisa mudava de figura... no imaginário tinha apenas Tartarugas com nomes de pintores renascentistas e munidas de um estômago de ferro que nem os aromas mais horríveis e putrefactos dos esgotos lhes tiravam o apetite por pizzas, não sei, mas essa parte sempre me fez impressão... Bem, estou a divagar não é? Ok... Mas as influências vieram de outros locais também: desde o cinema xunga dos anos 80 até aos animes incríveis que via quando era puto, a música e basicamente todo o espectro pop que nos rodeia. Quanto ao Cosmic Rocket Man é um nome que uso em variadas plataformas sociais da net. O nome talvez tenha sido inspirado naqueles filmes série B de ficção cientifica dos anos 60, mas nem eu sei ao certo... Esse nick é normalmente associado a um avatar muito particular, são esses mesmos que costumo usar em forma de stickers noutra forma de arte que me fascina bastante, a arte urbana. Só tenho pena de ser sempre associada a vandalismo, pelo menos por cá. Felizmente lá fora o Banksy e companhia já mostraram que se pode mudar mentalidades com ela, e é apenas, ao fim ao cabo, mais uma forma de expressão como tantas outras.




Tu e a Carla Rodrigues, sendo namorados, parece que se motivam um ao outro no que toca a trabalho. Como funciona a vossa dinâmica enquanto artistas?

Sim, tenho a sorte de ter alguém que vive neste mesmo mundo geek, haha. Temos por hábito ir mostrando, passo a passo, o progresso dos trabalhos em que ambos estamos envolvidos. Quando necessário lá estamos a dar opiniões e a ser críticos, isso ajuda sempre a atingir um melhor resultado, mas é algo que raramente faço porque a Carla tem um enorme talento. Outra vantagem é irmos aprendendo um com o outro no que diz respeito a novas técnicas, principalmente a nível digital. Estranhamente, e apesar do gosto comum, ainda não fizemos nada em parceria, apesar de querermos bastante. Talvez uma BD numa próxima Zona? Quem sabe... ;)




Na tua perspectiva, o que é ser hoje autor de BD em Portugal? Quais os teus planos para o futuro? 

Tenho um emprego normalíssimo, empregado de comércio, e não estou a ver começar a viver da ilustração de um momento para o outro, apesar de ser o maior desejo para qualquer pessoa apaixonada  pela ilustração. Mas isto não é novidade alguma, Portugal e o seu mercado reduzido de Banda Desenhada impedem isso. Acho que um autor de BD nos dias de hoje neste nosso país tem de ser alguém persistente para levar o seu sonho avante e acima de tudo apaixonado pelo que faz. Falo por mim, adoro desenhar e espero poder, como artista, aprender mais e divulgar cada vez mais o que faço e esperar que a resposta do outro lado seja positiva. Futuramente gostaria de publicar projectos mais pessoais, mas, para mim, toda esta paixão muito dificilmente irá deixar de ser um hobby.


Para saber mais acerca do Pedro Carvalho, visite os seguintes links:


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